quinta-feira, 5 de maio de 2011

Outra arma forte...

A nossa língua!


Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.



(Luis Vaz de Camões)
******
PS: Hoje »» Dia da Língua Portuguesa e da Cultura, 
                   promovido pela CPLP e 
                   celebrado em todo o espaço lusófono

2 comentários:

  1. Lusofonia...
    Neste dia...Camões aqui lembrado.

    Um abraço por se ter lembrado.

    ResponderEliminar
  2. E Agora, José?
    (Carlos Drummond de Andrade
    Retirado do Site:
    http://www.instituto-camoes.pt/images/stories/ANTOLOGIA_.pdf

    E agora, José?
    A festa acabou,
    a luz acabou,
    o povo sumiu,
    a noite esfriou,
    e agora José?
    e agora você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora, José?
    Está sem mulher,
    está sem discurso,
    está sem carinho,
    já não pode beber,
    já não pode fumar,
    cuspir já não pode,
    a noite esfriou,
    o dia não veio,
    o bonde não veio,
    o riso não veio,
    não veio a utopia
    e tudo acabou
    e tudo fugiu
    e tudo mofou,
    e agora, José?
    E agora, José?
    sua doce palavra,
    seu instante de febre,
    sua gula e jejum,
    sua biblioteca,
    sua lavra de ouro,
    seu terno de vidro,
    sua incoerência,
    seu ódio-e agora? Com a chave na mão,
    quer abrir a porta,
    não existe porta;
    quer morrer no mar,
    mas o mar secou;
    quer ir para Minas,
    Minas não há mais.
    José, e agora?
    Se você gritasse,
    se você gemesse,
    se você tocasse
    a valsa vienense,
    se você dormisse,
    se você cansasse,
    se você morresse...
    Mas você não morre,
    você é duro, José.
    Sozinho no escuro
    qual bicho-do-mato,
    sem teogonia,
    sem parede nua
    para se encostar,
    sem cavalo preto
    que fuja a galope,
    você marcha, José!
    José, para onde?

    ResponderEliminar