sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Navegando nas núvens...

(Imagem feita com:  http://www.klowdz.com/draw ) 



Cais

A sós, no cais, olhando o barco em que partia,
não era de ti que me despedia,
mas de mim, que nessa hora
sem acenos me fui embora.
Descobridor de mares que nem sequer sabia
que nome tinham, se era noite ou dia,
por longo tempo naveguei
até que, por fim, voltei.
Mas do cais da largada não restava já
lembrança alguma e muito menos há
muralha onde acostar.
E, sendo tudo em volta mar e mar,
não me resta senão continuar.

(Torquato da Luz)


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Canções de Encontro - VIII (e última do tema)

Para mim, a mais simples e a mais bela das
"Canções de Encontro"

Cinderela

Eles são duas crianças a viver esperanças, a saber sorrir.
Ela tem cabelos louros, ele tem tesouros para repartir.
Numa outra brincadeira passam mesmo à beira sempre sem falar.
Uns olhares envergonhados e são namorados sem ninguém pensar.


Foram juntos outro dia, como por magia, no autocarro, em pé.
Ele lá lhe disse, a medo: "O meu nome é Pedro e o teu qual é?"
Ela corou um pouquinho e respondeu baixinho: "Sou a Cinderela".
Quando a noite o envolveu ele adormeceu e sonhou com ela...

[Refrão]
Então, 
Bate, bate coração
Louco, louco de ilusão
A idade assim não tem valor.
Crescer,
vai dar tempo p'ra aprender, 
Vai dar jeito p'ra viver
O teu primeiro amor.

Cinderela das histórias a avivar memórias, a deixar mistério
Já o fez andar na lua, no meio da rua e a chover a sério.

Ela, quando lá o viu, encharcado e frio, quase o abraçou.
Com a cara assim molhada ninguém deu por nada, ele até chorou...

[Refrão]

E agora, nos recreios, dão os seus passeios, fazem muitos planos.
E dividem a merenda, tal como uma prenda que se dá nos anos.

E, num desses momentos, houve sentimentos a falar por si.
Ele pegou na mão dela: "Sabes Cinderela, eu gosto de ti..."


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Canções de Encontro - VII


Non Je N'ai Rien Oublie  (tradução) 


Eu nunca pensei que nos reencontraríamos
A coincidência é curiosa, faz algumas coisas
E o destino por um momento faz uma pausa
Não, eu não esqueci nada

Eu sorri contra minha vontade, só de ver você
Se os meses e os anos, muitas vezes, marcam os seres
Você não mudou, o cabelo, pode ser.
Não, eu não esqueci nada

Casado, eu? Bobagem, eu não tenho nenhuma inveja.
Eu amo a minha liberdade e, então, você e eu.
Eu não encontrei a mulher da minha vida
Mas vamos tomar uma bebida, e você me fala sobre você

O que você costuma fazer? Está rica e bem de vida?
Mora sozinha em Paris? Mesmo depois do casamento?
Entre nós, seus pais devem ter morrido de raiva
Não, eu não esqueci nada

Quem me diria que um dia, sem querer
De repente o destino nos colocou frente a frente
Eu pensei que tudo estava morto com o passar do tempo
Não, eu não esqueci nada

Eu não sei o que dizer ou por onde começar
São muitas recordações, que invadem minha cabeça
E o passado vem das profundezas da derrota
Não, eu não esqueci nada, nada.

Na idade em que lutei por meu amor com todas as armas
Seu pai, por você ter outras ambições
Destruiu nosso amor e fez com que chorássemos
Para escolher um marido melhor pra sua situação.

Eu queria ver você, mas você estava presa
Eu lhe escrevi cem vezes, mas sempre sem resposta.
Demorei algum tempo para desistir
Não, eu não esqueci nada

O tempo é curto e o café já vai fechar.
Vou apenas te levar pra casa, passando pelas ruas
desertas. Como no tempo dos beijos que eu te roubei à sua porta
Não, eu não esqueci nada

Cada estação era a nossa estação do amor
E nós não temíamos nem o inverno, nem o outono
É sempre primavera, quando se tem vinte anos
Não, eu não esqueci nada, nada.


Foi muito bom sentir a sua presença
Eu me sinto diferente, como se fosse mais leve
Muitas vezes precisamos de um banho de adolescência.
É doce voltar às fontes do passado

Eu queria, se você quiser, sem querer forçá-la
Ver você de novo, enfim ... se possível
Se você quiser, se você estiver disponível
Se você não tiver esquecido
Como eu, que não esqueci nada.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Canções de Encontro - VI


Sinal fechado

Olá, como vai 
Eu vou indo e você, tudo bem? 
Tudo bem, eu vou indo, correndo 
Pegar meu lugar no futuro, e você? 
Tudo bem, eu vou indo em busca 
De um sono tranqüilo, quem sabe? 
Quanto tempo... 
Pois é, quanto tempo... 

Me perdoe a pressa 
É a alma dos nossos negócios... 
Qual, não tem de que 
Eu também só ando a cem 
Quando é que você telefona? 
Precisamos nos ver por aí 
Pra semana, prometo, talvez 
Nos vejamos, quem sabe? 
Quanto tempo... 
Pois é, quanto tempo... 

Tanto coisa que eu tinha a dizer 
Mas eu sumi na poeira das ruas 
Eu também tenho algo a dizer 
Mas me foge a lembrança 
Por favor, telefone, eu preciso 
Beber alguma coisa rapidamente 
Pra semana... 
O sinal... 
Eu procuro você... 
Vai abrir!!! Vai abrir!!! 
Eu prometo, não esqueço, não esqueço 
Por favor, não esqueça 
Adeus...
Adeus...


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Canções de Encontro - V


Olhos nos olhos  

Quando voce me deixou, meu bem 
Me disse pra eu ser feliz e passar bem 
Quis morrer de ciúme 
Quase enlouqueci 
Mas depois como era de costume, obedeci 

Quando você me quiser rever 
Já vai me encontrar refeita, pode crer 

Olhos nos olhos 
Quero ver o que você faz 
Ao sentir que sem você eu passo bem demais 

E que venho até remoçando 
Me pego cantando sem mais nem porque 

E tantas águas rolaram 
Tantos homens me amaram bem mais e melhor que você 

Quando talvez precisar me mim 
Você sabe que a casa é sempre sua, venha sim 

Olhos nos olhos 
Quero ver o que você diz 
Quero ver como suporta me ver tão feliz


domingo, 25 de novembro de 2012

Canções de Encontro - IV


Um dia de domingo

Eu preciso te falar
te encontrar
de qualquer jeito
pra sentar e conversar
depois andar
de encontro ao vento
eu preciso respirar
o mesmo ar que te rodeia
e na pele quero ter
o mesmo sol 
que te bronzeia
eu preciso te tocar
e outra vez 
te ver sorrindo
e voltar num sonho lindo
já não dá mais pra viver
um sentimento sem sentido
eu preciso descobrir
a emoção de estar contigo
ver o sol amanhecer
e ver a vida acontecer
como um dia de domingo
Faz de conta que 
ainda é cedo 
tudo vai ficar 
por conta da emoção 
Faz de conta que 
ainda é cedo 
e deixar falar a voz 
a voz do coração  


sábado, 24 de novembro de 2012

Canções de Encontro - III

Sábado à tarde

Perdia meia hora 
Parado em frente ao espelho 
Mudava de camisa 
Vestia-me outra vez 
Fechava a porta à chave 
Acendia um cigarro 
Ia ensaiando gestos 
Passava já das três 

Vestia o meu casaco 
Corria sem parar 
E à porta do cinema 
Morria de pensar 
Que talvez não viesses 
Não pudesses entrar 
Num filme para adultos 
Até te ver chegar 

Sábado à tarde 
No cinema da avenida 
Mal as luzes se apagavam 
Acendia o coração 
Sábado à tarde 
Era uma noite bonita 
Noite que sendo infinita 
Cabia na minha mão 

Perdia meia hora 
Num gesto do meu braço 
A procurar coragem 
Para fazer o baraço 
Chegava ao intervalo 
Fumava sem prazer 
E gestos que ensaiara 
Morriam ao nascer 


Por fim vencia o medo 
E quase sem te ver 
Esquecia os meus dedos 
Cansados de tremer 
Por sobre o teu joelho 
Esperava a tua mão 
Num filme para adultos 
Crescíamos então


 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Canções de Encontro - II


Mulher deixada


Estava tão bonita 
A mulher que outrora 
Eu mandei embora 
No acaso do encontro 
Nos cumprimentámos 
E até nos beijámos 
Como vai você? 
Eu vou bem, obrigado. 
E você por onde anda, 
Como tem passado? 
Um ou dois minutos de saudade a dois, 
Adeus, até mais ver, logo ou depois 

Por que é que mulher que a gente deixa 
Fica sempre mais bonita e valendo uma paixão 
Por que é que a gente morre de despeito 
quando vê que não tem jeito, sequer, de aproximação. 

Confesso que ela estava tão bonita 
Tão bonita para outro, o que afinal doeu em mim. 
Se eu fosse Deus, mulher deixada enfeiava 
E não mais impressionava 
P'ra não ter um fado assim.


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Canções de Encontro - I



A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. É preciso encontrar as coisas certas da vida, para que ela tenha o sentido que se deseja. Assim, a escolha de uma profissão também é a arte do encontro, porque a vida só adquire vida, quando a gente empresta a nossa vida, para o resto da vida.

Há canções que nos dizem coisas essenciais à vida e ao coração. O belo Samba da Bênção de Vinicius de Moraes é uma dessas preciosidades. Um de seus tão significativos versos diz: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Encontrarmo-nos de verdade com alguém é muito mais do que compartilhar tempo e espaço, é de fato uma arte que nos faz mais fortes, mais humanos e mais autênticos no decorrer da nossa existência.
Junto com outra pessoa nos deparamos não só com ela, mas conosco; temos oportunidade – se tivermos a coragem e sensibilidade da observação – de dar-nos conta de como somos na relação com o outro, no nosso melhor e no nosso pior. Quem nunca teve essa vivência de estar junto e simplesmente ser o que se é, vendo o outro como ele é também? Num momento fugaz sentimos – e não sabemos explicar racionalmente – que as fronteiras entre o Eu e o Tu se dissipam, que é como se fôssemos um só. Depois isso passa – normalmente num lampejo – e seguimos em nossa individualidade, com a sensação de que fomos tocados na nossa alma...


Divisa

Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancarei teus olhos
E os colocarei no lugar dos meus;
Arrancarei os meus olhos
E os colocarei no lugar dos teus.
Então ver-te-ei com os teus olhos
E tu me verás com os meus.
Assim, até a coisa comum serve ao silêncio
E o nosso encontro permanecerá meta sem cadeias:
Um lugar indeterminado, num tempo indeterminado,
Uma palavra indeterminada para um homem indeterminado,

“a palavra ilimitada para o homem não cerceado”

(J.L.Moreno, criador do Psicodrama)

(Texto completo aqui)

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PS: Sabe bem falar destes “encontros da paixão”, avassaladores, em que “vale tudo, menos tirar olhos”, como é costume dizer-se entre nós “portugueses”

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Cinco Outonos se passaram...



Hoje o meu blogue faz cinco aniversários

Teria, talvez, muito a dizer, mas não quero ser maçador!

Digo-o nas palavras de outrem:

Nego-me a submeter-me ao medo, 
Que me tira a alegria de minha liberdade, 
Que não me deixa arriscar nada, 
Que me torna pequeno e mesquinho, 
Que me amarra, 
Que não me deixa ser direto e franco, 
Que me persegue, 
Que ocupa negativamente a minha imaginação, 
Que sempre pinta visões sombrias.
No entanto não quero levantar barricadas por medo do medo, 
Eu quero viver, não quero encerrar-me. 
Não quero ser amigável por medo de ser sincero. 
Quero pisar firme porque estou seguro, 
E não para encobrir o medo. 
E quando me calo, quero fazê-lo por amor,
E não por temer as consequências de minhas palavras.
Não quero acreditar em algo só por medo de não acreditar. 
Não quero filosofar por medo de que algo possa atingir-me de perto. 
Não quero dobrar-me só porque tenho medo de não ser amável. 
Não quero impor algo aos outros pelo medo de que possam impor algo a mim. 
Por medo de errar não quero me tornar inativo. 
Não quero fugir de volta para o velho, o inaceitável, por medo de não me sentir seguro no novo. 
Não quero fazer-me de importante porque tenho medo de ser ignorado.
Por convicção e amor quero fazer o que faço e deixar de fazer o que deixo de fazer. 
Do medo quero arrancar o domínio de dá-lo ao amor. 
E quero crer no reino que existe em mim.


(Rudolf Steiner)


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Contudo... continuo ainda a ter medo!!!