O passarinho caninguili e o gafanhoto
Segundo alguns povos de algumas regiões de Angola
dizem que é o mais pequenino de todos os passáros
das terras em que vive.
Na região do Mungo, no dialecto local, é conhecido
Na região do Mungo, no dialecto local, é conhecido
pelo nome de caninguir ou caninguíri e no dialecto
dos bailundos chamam-lhe caninguíli.
O caninguíli tem a possibilidade de, além do canto,
O caninguíli tem a possibilidade de, além do canto,
produzir um barulho de tal maneira forte e sibilante
que é assustador.
Os animais ao ouvir aquele ruído vibrante assustam-se,
ou pelo menos ficam alertados, consequentemente atentos
ao que se passar à sua volta e prontos a defenderem-se
do que der e vier.
Afirma-se que o caninguíli auxilia animais que se
encontram em perigo ou em situações embaraçosas.
Por exemplo, quando uma águia se aproxima da aldeia
onde as galinhas andam à solta, ou duma bandada de
perdizes, o caninguíli canta o seu tié...tié.. tié,
de tal modo e com tal intonação que galinhas e perdizes
se acoitam, antes de a águia chegar a uma distância
tão curta que as aves em mira já não tenham tempo de se
defenderem, acoitando-se.
Conta-se que, muitas vezes, quando o caninguíli vê um
Conta-se que, muitas vezes, quando o caninguíli vê um
caçador na peugada duma peça de caça voa para o alto
por cima da cabeça do caçador. Em dada altura o passarinho
cai do alto em voo picado, como se fosse uma bala,
produzindo tal ruído e tão sibilante que o caçador
fica assustado, e a caça também assustada, ou, melhor,
alertada, foge a sete pés...
Outro papel que lhe é atribuído é o da previsão do tempo:
Outro papel que lhe é atribuído é o da previsão do tempo:
se naquele dia vier chuva o caninguíli cantará de certo modo;
se for dia de bom tempo, sem chuva, canta de maneira diferente.
Por isso as populações ao ouvirem-no cantar ao dealbar
do dia ficam a saber, pelo modo como ele canta, se naquele
dia virá ou não virá chuva.
É bem possível que o feiticeiro conhecido pelo nome de
manda-chuva, antes de fazer a previsão do tempo vá ouvir
o caninguíli de madrugada, e sem que ninguém dê conta.
Deste modo o passarinho concorre para alicerçar as
singulares qualidade de adivinho do feiticeiro.
Este passarinho nunca faz ninho nas árvores mas sim no meio
Este passarinho nunca faz ninho nas árvores mas sim no meio
do capim, preso a algumas hastes de caniço;
ninho muito bem feito, onde a água da chuva não consegue
penetrar e onde choca apenas dois ovos, tem a forma de
saco fechado por cima com pequenina abertura lateral e cimeira,
em parte protegida por uma pequenina pala.
O comportamento deste pássaro faz com que seja querido
O comportamento deste pássaro faz com que seja querido
das populações. Por isso é por elas protegido.
Ninguém se atreve a matá-lo, a tirar-lhe os ovos ou
a estragar-lhe o ninho.
Depois desta introdução que era importante para que
se conhecesse o comportamento singular do caninguíli,
eis finalmente o conto, o caninguíli e o gafanhoto.
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Era uma vez um pássaro chamado cachindjondjo,
Era uma vez um pássaro chamado cachindjondjo,
pequenino e belamente colorido, que tinha um ninho
com filhinhos.
Este lindo pássaro, que se alimenta de sucos das flores,
Este lindo pássaro, que se alimenta de sucos das flores,
e por isso lhe chamam beija-flor, um belo dia viu
o seu ninho pequenino ocupado por um grande gafanhoto,
que, na língua dos bailundos é conhecido pelo nome de
loluhuma.
O gafanhoto de grandes asas abertas e encarnadas.
O gafanhoto de grandes asas abertas e encarnadas.
ocupava todo o ninho. Por isso o cachindjondjo,
o pequenino beija-flor, não podia dar de comer
aos seus filhinhos.
Ao ver o ninho tapado pela asas do oluhuma,
Ao ver o ninho tapado pela asas do oluhuma,
o cachindjondjo ficou aterrado e começou a cantar
tristemente, assim:
Ame cachindjondjo
Nda lila lila,
Nda lila lila...
Mu iñila címuè.
O que, em tradução livre, será:
Eu cachindjodjo
Chorei, chorei... chorei... chorei, chorei...
Chorei muito,
Porque uma coisa estranha
Entrou na minha casa (ou seja, no meu ninho).
O caninguili, ao ouvir chorar o cachindjondjo,
Ame cachindjondjo
Nda lila lila,
Nda lila lila...
Mu iñila címuè.
O que, em tradução livre, será:
Eu cachindjodjo
Chorei, chorei... chorei... chorei, chorei...
Chorei muito,
Porque uma coisa estranha
Entrou na minha casa (ou seja, no meu ninho).
O caninguili, ao ouvir chorar o cachindjondjo,
foi imediatamente junto dele e disse-lhe:
não tenhas medo, não te aflijas, que eu vou fazer
sair do teu ninho o estranho que nele se instalou
abusivamente.
Dito isto começou a voar para o alto cantando
Dito isto começou a voar para o alto cantando
tié... tié... tié... Sempre a voar e a cantar foi
até às nuvens.
Depois num voo picado, «mais rápido do que o de
uma águia quando apanha um pinto», deixou-se cair
como uma bala direito ao ninho.
Esta queda em voo picado produziu um tal ruído e
tão sibilante, que o loluhuma, ao ouvi-lo
«julgou ser uma coisa perigosíssima que caía do céu,
deu um salto e fugiu do ninho».
Então o cachindjondjo pôde dar de comer aos
Então o cachindjondjo pôde dar de comer aos
seus filhinhos muito queridos.
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Esta é pois uma história ou conto em que o caninguíli
Esta é pois uma história ou conto em que o caninguíli
ou caninguíri deu provas de altruísmo em prol
dum pequenino beija-flor.
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