sexta-feira, 18 de julho de 2008

Altruísmo


O passarinho caninguili e o gafanhoto

Segundo alguns povos de algumas regiões de Angola
dizem que é o mais pequenino de todos os passáros
das terras em que vive.
Na região do Mungo
, no dialecto local, é conhecido
pelo nome de caninguir ou caninguíri e no dialecto
dos bailundos chamam-lhe caninguíli.
O caninguíli tem a possibilidade de, além do canto,
produzir um barulho de tal maneira forte e sibilante
que é assustador.
Os animais ao ouvir aquele ruído vibrante assustam-se,
ou pelo menos ficam alertados, consequentemente atentos
ao que se passar à sua volta e prontos a defenderem-se
do que der e vier.
Afirma-se que o caninguíli auxilia animais que se
encontram em perigo ou em situações embaraçosas.
Por exemplo, quando uma águia se aproxima da aldeia
onde as galinhas andam à solta, ou duma bandada de
perdizes, o caninguíli canta o seu tié...tié.. tié,
de tal modo e com tal intonação que galinhas e perdizes
se acoitam, antes de a águia chegar a uma distância
tão curta que as aves em mira já não tenham tempo de se
defenderem, acoitando-se.
Conta-se que, muitas vezes, quando o caninguíli vê um
caçador na peugada duma peça de caça voa para o alto
por cima da cabeça do caçador. Em dada altura o passarinho
cai do alto em voo picado, como se fosse uma bala,
produzindo tal ruído e tão sibilante que o caçador
fica assustado, e a caça também assustada, ou, melhor,
alertada, foge a sete pés...
Outro papel que lhe é atribuído é o da previsão do tempo:
se naquele dia vier chuva o caninguíli cantará de certo modo;
se for dia de bom tempo, sem chuva, canta de maneira diferente.
Por isso as populações ao ouvirem-no cantar ao dealbar
do dia ficam a saber, pelo modo como ele canta, se naquele
dia virá ou não virá chuva.
É bem possível que o feiticeiro conhecido pelo nome de
manda-chuva, antes de fazer a previsão do tempo vá ouvir
o caninguíli de madrugada, e sem que ninguém dê conta.
Deste modo o passarinho concorre para alicerçar as
singulares qualidade de adivinho do feiticeiro.
Este passarinho nunca faz ninho nas árvores mas sim no meio
do capim, preso a algumas hastes de caniço;
ninho muito bem feito, onde a água da chuva não consegue
penetrar e onde choca apenas dois ovos, tem a forma de
saco fechado por cima com pequenina abertura lateral e cimeira,
em parte protegida por uma pequenina pala.
O comportamento deste pássaro faz com que seja querido
das populações. Por isso é por elas protegido.
Ninguém se atreve a matá-lo, a tirar-lhe os ovos ou
a estragar-lhe o ninho.
Depois desta introdução que era importante para que
se conhecesse o comportamento singular do caninguíli,
eis finalmente o conto, o caninguíli e o gafanhoto.
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Era uma vez um pássaro chamado cachindjondjo,
pequenino e belamente colorido, que tinha um ninho
com filhinhos.
Este lindo pássaro, que se alimenta de sucos das flores,
e por isso lhe chamam beija-flor, um belo dia viu
o seu ninho pequenino ocupado por um grande gafanhoto,
que, na língua dos bailundos é conhecido pelo nome de
loluhuma.
O gafanhoto de grandes asas abertas e encarnadas.
ocupava todo o ninho. Por isso o cachindjondjo,
o pequenino beija-flor, não podia dar de comer
aos seus filhinhos.
Ao ver o ninho tapado pela asas do oluhuma,
o cachindjondjo ficou aterrado e começou a cantar
tristemente, assim:
Ame cachindjondjo
Nda lila lila,
Nda lila lila...
Mu iñila címuè.

O que, em tradução livre, será:
Eu cachindjodjo
Chorei, chorei... chorei... chorei, chorei...
Chorei muito,
Porque uma coisa estranha
Entrou na minha casa (ou seja, no meu ninho).

O caninguili, ao ouvir chorar o cachindjondjo,
foi imediatamente junto dele e disse-lhe:
não tenhas medo, não te aflijas, que eu vou fazer
sair do teu ninho o estranho que nele se instalou
abusivamente.
Dito isto começou a voar para o alto cantando
tié... tié... tié... Sempre a voar e a cantar foi
até às nuvens.
Depois num voo picado, «mais rápido do que o de
uma águia quando apanha um pinto», deixou-se cair
como uma bala direito ao ninho.
Esta queda em voo picado produziu um tal ruído e
tão sibilante, que o loluhuma, ao ouvi-lo
«julgou ser uma coisa perigosíssima que caía do céu,
deu um salto e fugiu do ninho».
Então o cachindjondjo pôde dar de comer aos
seus filhinhos muito queridos.
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Esta é pois uma história ou conto em que o caninguíli
ou caninguíri deu provas de altruísmo em prol
dum pequenino beija-flor.

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