sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sedução pelo abismo...



Viver no limite
Viver no limite é atraente. Passar pelos dias com o corpo e não com a cabeça. Evitar a vertigem do tempo com experiência atrás de experiência. Não conhecer mais de nós próprios do que a breve consciência de um estado de espírito. Ir atrás do sonho onde todos o procuram., porque se todos o procuram numa sucessão de aqui e agoras levemente alucinados, então é porque ele está inequivocamente lá. Impossível uma geração inteira estar enganada. O importante é seguir sempre em frente, cruzar o mundo sem destoar, levar a vida que é suposto se levar. No limite.

De tão atraente que o limite é, difícil dizer que nunca me seduziu. Às vezes soube-me bem abandonar-me ao vento, ao tempo, ao acaso. Mergulhar no limite sabe a liberdade, quando não sabe a fracasso. Num dia, numa noite, numa hora, num lugar, já senti o “tanto faz”, o “não tenho nada a perder”, o “vamos mas é curtir”. Por vezes desejo-o intensamente. Manter expectativas dá um enorme trabalho. Tenho os meus achaques de preguiça. No limite, é tudo mais fácil. Além de que o sonho parece estar sempre no limite.

Inegável que o corpo não aguenta muitos limites. Daí que o limite tenha de ser intervalado com a inércia. Uma certa indiferença, que não deseja nada, um amarfanhar do sonho até à inconsciência, até à sua substituição por uma sucessão de nadas, pequenas expectativas para a manutenção diária da motivação. Depois, novamente o enfoque no desconhecido, esbraceja-se por ele porque traz alívio ao enfado. Rir, chorar, e acumular pessoas no dia a dia, numa sinfonia onde não há lugar para o silêncio, para os momentos sóbrios do eu mais eu. Preencher tudo com a vida física, terrena, a vida que é palpável, que pode ser fotografada, arquivada, catalogada, contada, acumulada. Ser jovem como eu significa cada vez mais escolher viver a vida assim, a correr.

Viver no limite é atraente. Porque viver no limite é expulsar a morte da vida. Mas pergunto-me se será este o caminho da felicidade.

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PS - Não sei ultrapassou "os limites" a jovem que o escreveu. Mas sei que parou de postar no seu blogue.
        Clique no nome do post - "Viver no limite" para ver a origem do mesmo.
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